Sempre fui competitivo,
odeio perder, até o ponto de perder a compostura. Nunca fugi de uma disputa, de
um jogo ou de uma boa aposta, claro que essa postura trouxe problemas, tanto
nas vitórias quanto nas derrotas. Preciso melhorar, sei, mas a temperatura sobe
a cada novo desafio.
Preparava-me para sair quando o interfone toca e anuncia os amigos esperando
na portaria do prédio, acelerei a beca e desci. Saudações e conversas sobre a
rota da noite até que surge o assunto sobre gosto etílico, nesta época estava
enfeitiçado por um bom conhaque, enquanto um dos amigos preferia uma cachaça
mineira, o assunto esquentou e a disputa logo foi lançada;
- Aposto que bebo mais pinga do que você conhaque...
As palavras desafiadoras remoeram a espinha, que sentiu o tradicional
efeito congelante produzido pela adrenalina, desafio aceito. A primeira parada
estava definida, a padaria da esquina. Os copos americanos foram depositados no
balcão de aço inox, que abrigava as redomas de vidro recheadas de salgados de
aparência tentadora e origem duvidosa. Ambos “pela boca” das bebidas
selecionadas, pinga para ele, conhaque para mim, as marcas estavam distantes
das reconhecidas pelas pesquisas de opinião e a ressaca era anunciada. Viramos.
- Outra rodada
Assim se fez, prontamente o atendente apresentou mais dois americanos,
já cheios. Confesso que para mim já bastava. Viramos.
Após a quarta dose aumentara a surpresa com a feição do outro
competidor, que parecia imune à situação, enquanto que eu procurava o centro da
banqueta redonda que circundava todo o balcão. Precisei sentar e buscar apoio.
- Outra rodada
Estava entorpecido, não lembrava o porquê ali estava, tampouco onde
iria e quiçá quem era. A quinta e sexta rodadas foram mais fáceis, a língua já
não reconhecia sabores e a garganta formigada aceitava ser a rodovia expressa
do líquido marrom dourado.
Na sétima rodada venci.
Ao dar o primeiro gole o competidor golfou, espalhando o aroma da cana
num raio de meio metro, bastava eu dar um pequeno gole e levar o troféu para
casa. O sentimento de vitória foi se desmanchando quando a discussão se
acalorou entre o competidor e o dono da padaria – um português de avental
branco sujo e lápis afiado na orelha.
- Oras, oras, assim você vai matar o gajo.
A surpresa ajudou a diminuir a tontura, soube que antes do interfone
tocar, o “amigo” fora até a padaria e combinara a aposta com o atendente, que
por uma singela gorjeta aceitou servir o seu melhor conhaque para mim e um copo
de refrescante água pura para ele. O sétimo copo foi servido pelo portuga, que
vendo a cena em seu camarote feito por um caixote de bebida deitado,
posicionado atrás do caixa, veio ao balcão e serviu a mais bela cachaça ao
distinto e honesto cavalheiro.
Aprendi uma bela lição, nas
próximas apostas quem determina as regras sou eu.
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