quarta-feira, 29 de abril de 2020

Transilvânia Fashion Week


Essa é nova, não só de postagem, mas de acontecido, apesar de ser grande a lista de histórias a serem descritas aqui e saboreadas com amigos, outras acontecem no presente e merecem seu lugar de destaque, essa que vai agora aconteceu neste último final de semana, antes que caia no limbo, lá vai.
O convite já fora realizado a algumas semanas, relutante, recusara com veemência, contudo a insistência – que não precisa ser muita – fez com que aceitasse a aventura. A festa caracterizava os anos 80, anos esses que foram a base de minha vida adulta, foram nestes tempos que vivi a maioria das histórias, foi nesse tempo de descobertas que tive oportunidade de errar, de escolher, de tentar e de não me arrepender, de me desculpar e errar novamente, enfim, a adolescência. O saudosismo automaticamente me remeteu aos gostos e cultura da época, de quebra, muito bem vivida. Dire, U2, Smiths, Cure, Clash, A-ha, Police, Legião, Titãs e Paralamas foram imediatamente sendo cantaroladas na mente, pena que não tinha mais nenhum traje “wave” e os tênis yacht desenhados e coloridos à mão já se desmancharam no tempo.
O trajeto seria até o centro da cidade, local escolhido pelos organizadores, os quatro no carro lá ainda encontrariam mais dois, seguimos. A chegada já nos mostrava a atual decadência do que deveria ser nossa história, prédios abandonados, ruas sujas e escuras, bem à frente da balada se estabelecia o ponto de encontro de uma tribo pouco usual e vista, punks e seus cabelos coloridos, cumpridos e mal cortados, correntes despejadas pelo corpo, pena que suas roupas pretas não os escondiam. Aguardamos o casal remanescente e entramos, fomos uns dos primeiros, salão vazio, enorme, porém dividido em vários subespaços, a escuridão não escondia a falta de conservação, mesas somente no andar superior, o que seria o restaurante do hotel fechado e aparentemente abandonado, subimos e garantimos um pequeno conforto.
O garçom logo se anunciou - era uma figura à parte, baixo, muito além da média e portador de uma cabeça desproporcional, exageradamente desproporcional, certamente seu apelido era “dó da mãe” - trazendo nas mãos o cardápio de uma única folha plastificada e com poucas opções. Imaginando a noite de horror, pedimos uma garrafa de vodka, a total falta de estrutura se apresentou pela segunda vez, o “cabeça” explicou que traria sim, mas não antes de irmos ao caixa e pagarmos antecipadamente pelo líquido, não confiavam em seus frequentadores, o fiz batendo o pé e espumando pelas ventas, achei o absurdo dos absurdos, aquele local estava me irritando. Após toda a via sacra, chegou uma garrafa aberta, a única disponível no bar e estoque, que foi completada com doses extras para suprir o litro.
As mesas rapidamente começaram a ficar tomadas, nesta altura, os goles que eram largos e fartos, transformaram nosso humor. Cada novo cumprimento entre os vizinhos era acompanhado por uma sequência de risadas vindas de nossa mesa, sinceramente, apesar de nada narcisista, nunca vi tanta gente feia reunida num único espaço, estava declarada a abertura do “Transilvânia Fashion Week”, onde modelitos floridos e de tamanho Extra GGG eram o ponto alto da moda. Garrafa quase vazia, essa foi a deixa para sairmos da mesa e irmos dançar no salão principal, as músicas de longe eram as que eu conhecia e apreciava, como dizia o DJ, eram músicas lado B, tendência explícita do dito cujo também, só não vou comentar mais sobre isso pois um de nossos amigos ficou bastante entusiasmado com a animação oriunda do palco, para não chatear, me calo.
A procura pelo banheiro se dava necessária, trançando pelos corredores estreitos, cheguei, a porta estilo bar texano, ia do chão ao teto, contudo sua abertura pelo meio expunha toda a intimidade dos dois ocupantes, que era sua capacidade máxima, o das mulheres ficava logo à frente.
Para os fumantes, era proibido ir ao local destinado ao fumo carregando seu copo, a explicação era que o local não podia abrigar rodinhas de conversa, então era, entrar correndo, fumar correndo, sair correndo.
A lei da relatividade funciona, as poucas horas demoraram uma eternidade, mas acabou, saímos e fomos lanchar, em local conhecido e testado inúmeras vezes, senti certo alívio, não sei se estou ficando velho, mas que saudade que deu dos anos dois mil.

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