Essa é nova, não só de postagem, mas de acontecido, apesar de ser
grande a lista de histórias a serem descritas aqui e saboreadas com amigos,
outras acontecem no presente e merecem seu lugar de destaque, essa que vai
agora aconteceu neste último final de semana, antes que caia no limbo, lá vai.
O convite já fora realizado a algumas semanas, relutante, recusara com
veemência, contudo a insistência – que não precisa ser muita – fez com que
aceitasse a aventura. A festa caracterizava os anos 80, anos esses que foram a
base de minha vida adulta, foram nestes tempos que vivi a maioria das
histórias, foi nesse tempo de descobertas que tive oportunidade de errar, de
escolher, de tentar e de não me arrepender, de me desculpar e errar novamente,
enfim, a adolescência. O saudosismo automaticamente me remeteu aos gostos e
cultura da época, de quebra, muito bem vivida. Dire, U2, Smiths, Cure, Clash,
A-ha, Police, Legião, Titãs e Paralamas foram imediatamente sendo cantaroladas
na mente, pena que não tinha mais nenhum traje “wave” e os tênis yacht
desenhados e coloridos à mão já se desmancharam no tempo.
O trajeto seria até o centro da cidade, local escolhido pelos
organizadores, os quatro no carro lá ainda encontrariam mais dois, seguimos. A
chegada já nos mostrava a atual decadência do que deveria ser nossa história,
prédios abandonados, ruas sujas e escuras, bem à frente da balada se
estabelecia o ponto de encontro de uma tribo pouco usual e vista, punks e seus
cabelos coloridos, cumpridos e mal cortados, correntes despejadas pelo corpo,
pena que suas roupas pretas não os escondiam. Aguardamos o casal remanescente e
entramos, fomos uns dos primeiros, salão vazio, enorme, porém dividido em
vários subespaços, a escuridão não escondia a falta de conservação, mesas
somente no andar superior, o que seria o restaurante do hotel fechado e
aparentemente abandonado, subimos e garantimos um pequeno conforto.
O garçom logo se anunciou - era uma figura à parte, baixo, muito além
da média e portador de uma cabeça desproporcional, exageradamente
desproporcional, certamente seu apelido era “dó da mãe” - trazendo nas mãos o
cardápio de uma única folha plastificada e com poucas opções. Imaginando a
noite de horror, pedimos uma garrafa de vodka, a total falta de estrutura se
apresentou pela segunda vez, o “cabeça” explicou que traria sim, mas não antes
de irmos ao caixa e pagarmos antecipadamente pelo líquido, não confiavam em
seus frequentadores, o fiz batendo o pé e espumando pelas ventas, achei o
absurdo dos absurdos, aquele local estava me irritando. Após toda a via sacra,
chegou uma garrafa aberta, a única disponível no bar e estoque, que foi
completada com doses extras para suprir o litro.
As mesas rapidamente começaram a ficar tomadas, nesta altura, os goles
que eram largos e fartos, transformaram nosso humor. Cada novo cumprimento
entre os vizinhos era acompanhado por uma sequência de risadas vindas de nossa
mesa, sinceramente, apesar de nada narcisista, nunca vi tanta gente feia
reunida num único espaço, estava declarada a abertura do “Transilvânia Fashion
Week”, onde modelitos floridos e de tamanho Extra GGG eram o ponto alto da
moda. Garrafa quase vazia, essa foi a deixa para sairmos da mesa e irmos dançar
no salão principal, as músicas de longe eram as que eu conhecia e apreciava,
como dizia o DJ, eram músicas lado B, tendência explícita do dito cujo também,
só não vou comentar mais sobre isso pois um de nossos amigos ficou bastante
entusiasmado com a animação oriunda do palco, para não chatear, me calo.
A procura pelo banheiro se dava necessária, trançando pelos corredores
estreitos, cheguei, a porta estilo bar texano, ia do chão ao teto, contudo sua
abertura pelo meio expunha toda a intimidade dos dois ocupantes, que era sua
capacidade máxima, o das mulheres ficava logo à frente.
Para os fumantes, era proibido ir ao local destinado ao fumo carregando
seu copo, a explicação era que o local não podia abrigar rodinhas de conversa,
então era, entrar correndo, fumar correndo, sair correndo.
A lei da relatividade
funciona, as poucas horas demoraram uma eternidade, mas acabou, saímos e fomos
lanchar, em local conhecido e testado inúmeras vezes, senti certo alívio, não
sei se estou ficando velho, mas que saudade que deu dos anos dois mil.
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