quinta-feira, 30 de abril de 2020

Moda New Wave


Na primeira metade dos anos oitenta inventaram uma moda de gosto bem duvidoso, imitando o jeito e gosto também duvidoso dos surfistas, lançaram a moda new wave, que nada mais era que roupas coloridas e extravagantes, algumas quase cegavam de tão “acesa” era a cor, verde limão, azul bebê e amarelo reluzente eram as mais vistas nos corredores do shopping Iguatemi, e lojas como “OP”, “Lightning Bolt”, “775”, “Hang Loose”, “Fico” e “Hang Ten” eram cobiçadas e viviam lotadas de adolescentes precisando marcar sua presença, as vezes tendo que esperar juntar várias “mesadas” para poder comprar o sonho de consumo.

Perto do prédio tinha uma loja multimarcas, que sempre visitávamos para conhecer as novidades e babar em camisetas vendidas a preço de ouro, e, quando gostávamos de algo, toca lá o período de poupança. Foi exatamente o que o Edu (japa Jaspion, ou Princesa Safiri da história anterior) fez, ele gamou em um moletom branco, com mangas e capuz vermelho sangue, da Lightning Bolt, lindo de morrer, e de morrer também era seu preço, o que fez o Edu juntar muito, e namorar muito essa peça, não tenho certeza mas garanto que demorou mais de 2 meses de economias no lanche da escola para ele finalmente bater na minha porta e dizer: “vamos lá na loja pegar meu moletom, estou com a grana na mão”.

Era uma tarde de um dia de semana, havíamos voltado da escola na parte da manhã e como todas as tardes, nos encontrávamos para fazer algo. Jogar bola, algum jogo, andar de bike ou simplesmente jogar conversa fora, mas esse dia foi especial, um sonho estava para ser realizado, acompanhei o amigo.

A cara de satisfação daquele garoto, ao colocar a sacola debaixo do braço como se estivesse carregando um troféu, certamente já imaginando o quanto iria “abafar” na próxima festinha de algum amigo do colégio. Deixei-o em seu apartamento e fui embora, não imaginava que tamanha alegria e ansiedade o faria usar, naquele mesmo dia, seu moletom novo, só para descer para a salinha e ficar conosco. Naquele dia resolvemos jantar no Mac, tinha uma loja a duas quadras, fomos buscar nossos lanches e voltamos para comer no prédio.

Segura a história...

Preciso aqui fazer uma segunda introdução.

Fui morar nesse prédio quando tinha oito para nove anos, até meus quinze ou dezesseis só tinha meninos na nossa faixa de idade, e eram muitos, mais de dez, estranho isso, mas as meninas não iam morar lá. Até que em um determinado dia vimos uma mudança chegando, como nós éramos os guardiões do prédio, lá fomos saber mais sobre os novos moradores. Bela surpresa, o senhor era um verdadeiro ”fornecedor de artigos finos para cavalheiros”, era quase um milagre, ele chegou com suas cinco filhas. Duas delas da nossa idade, e já foram rapidamente enturmadas na gang. Mas nada ali naquele prédio era totalmente ou simplesmente normal, a caçula das irmãs era mais moleque que muitos de nós juntos, nada sobre opção de gênero aqui, mas pela postura e atitude mesmo, era porreta de brava a bicha. Ficamos muito amigos de cara.

... Com os sacos do Mac abertos e devorados, vamos à fase dois da noite, bater papo e contar mentiras. Nessa salinha havia um jogo de sofá 3 lugares e duas poltronas bem grandes, apertando dava para toda a galera sentar-se ali, metade no assento e metade em cima do encosto. A cena se formou, Tô (assim será chamada essa menina muleque) sentada na ponta do sofá com o Edu bem acima dela, sentado no encosto.

Muleca como era, pegou um sachê de catchup que sobrara do lanche e começou a brincar com ele, 1 segundo depois o Edu avisou, “vai fazer merda hein Tô”, ela ignorou e continuou, 5 segundos depois novo aviso do japa, “se fizer merda vai se ver comigo”, nova ignorada. 10 segundos depois o sache explode na mão dela e o conteúdo vai como um foguete no meio do peito do japa, como lembram, vestido com seu moletom branco zero bala.

Imediatamente esse japa "virou no Jiraiya", pulou do sofá e começou a xingar a menina com toda sua fúria. Ela, que de flor só tinha os espinhos, levantou também e tentou se desculpar, tudo isso em fração de segundos, ele a empurrou e ela – que não levava para casa – deu um chute no japa, que só restou se defender, colocando o braço na frente, braço esse que ostentava um relógio de ponteiro, daqueles modelos grandes, bem de japa mesmo. O relógio parecia um rojão, soltando peças para tudo que é lado, ponteiros para um lado e molinhas para outro, em 5 segundos o japa perdeu um moletom e um relógio, acho que nesse instante ele percebeu que continuar ali só iria trazer mais prejuízo, tirou o capuz do Jaspion, pôs o da princesa e foi chorar na cama que é o lugar quente.

Ainda bem que essa moda não durou muito, primeiro porque era muito feio e estranho mesmo aquele monte de gente que parecia acesa no 220V, e depois porque a dor da perda do moletom passou rápido.

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