Jandira foi embora. Fora nossa secretária do lar durante os últimos
quatro ou cinco anos, moravam em casa, ela e um casal de filhos, o menino uns
quatro anos mais velho, a menina de mesma idade. Eram minhas companhias, com
eles assistia aos desenhos prediletos e dividíamos horas a frente de tabuleiros
de jogos, agora isso se fora, os amigos, a protetora e a cozinheira de mão
cheia. Como estava na casa dos nove anos, precisava de alguém para ajudar nas
tarefas da cozinha, mamy prontamente fora à caça de uma substituta a altura,
mas estava difícil, lembro-me de uns bons meses almoçando na casa de um vizinho
de rua, onde acertamos um valor pela refeição diária. O prato predileto da
família era uma carne enlatada, lata essa que já vinha com o abridor, esquentava
a lata, abriam e jogavam no prato, uma delícia!
hoje acho que deveria ter ficado neste “status quo” por algum tempo, teria uns
bons quilos a menos.
Certo final de tarde estava em casa, solitário e movendo “carrinhos de
ferro” de lá para cá, esperando mamy voltar de sua segunda jornada de trabalho
para comermos algo decente, quando, para minha boa surpresa ela entra
acompanhada de nossa nova secretária. Loira natural, rodeava os vinte anos,
rosto bonito e corpo que acompanhava o conjunto, parecia a “Jennie”, só que o
gênio fora a mamy, que achou aquela deusa perdida a procura de um emprego e de
um lar. Meus olhos brilharam de forma perceptiva, claro que minha desculpa
utilizada era a de um almoço caseiro novamente, colou. A primeira noite foi
difícil, apesar da tenra idade, já estava descobrindo os desejos e aquele
monumento agiu como um catalisador da libido. Demorei, mas peguei no sono.
Acordei e quase enfartei, primeiro porque o costume de ficar sozinho me
fez esquecer, por instantes, de que agora alguém morava em casa, depois pelo
traje que vestia a moçoila, um short de jeans com pontas desfiadas cobria
somente metade das fartas nádegas, uma regata de cor rosa clara, apertada,
deixava a mostra os ombros e o contorno do busto, interessante relembrar dessa
visão depois de tantos anos. Tomei café com ela me rodeando e perguntando do
que e como gostava, fui descrevendo a lista de guloseimas, omitindo a
principal. Arrumei-me e fui ao colégio, aquele dia foi especial, corri as dez
quadras como nunca antes, precisava dividir esta experiência com os amigos mais
chegados, no caminho inflava o peito, sabia que seria o mais invejado da turma.
Alguns dias haviam se passado, não conseguia deixar de fixar os olhos
nela, porém sempre que ela me fitava, virava a cabeça e rubrava a face. As
nossas conversas se resumiam ao básico diário, comida, roupa, arrumação.
Extravasava a ansiedade em longas conversas com o zelador do prédio, um
verdadeiro amigo e conselheiro, tanto que me explicou o porquê estava me
sentindo daquele jeito, também revelou que ficava com torcicolo a cada vez que
ela passava pelo longo corredor da portaria, sua principal dica foi sobre os
assuntos que deveria puxar com ela, ouvia atentamente e voltava para casa para
treinar mentalmente. Por várias vezes a boca se trancou quando achava que seria
o momento certo, de qualquer forma fomos ficando mais amigos, agora já
assistíamos televisão juntos, ouvíamos música numa pequena vitrola que ganhara
no natal (assunto esse que merece um espaço especial) e conversávamos sobre
assuntos diferentes das rotinas do lar. Mamy estava feliz com nossa amizade,
acredito que era isso que ela esperava, uma moça para me fazer companhia, além
das tarefas rotineiras. Conseguiu.
Era final de tarde, estava na cozinha beliscando algum quitute quando
entra a moça, me viu, olhou no relógio e soltou – estou indo tomar banho, quer
me acompanhar?
Um calafrio imediatamente tomou conta de meu corpo, com as mãos
trêmulas e suando frio balancei levemente a cabeça em sentido de positivo, ela
veio ao meu encontro, me pegou pelas mãos e fomos em direção ao seu minúsculo
banheiro, que se localizava no final da área de serviço. Entramos, ela tirou
sua roupa e perguntou se não queria imitá-la, obedeci. Ligou o chuveiro e
começou a se ensaboar, a visão era extraordinária, nunca havia visto uma mulher
nua ao vivo e a cores, e principalmente, ao alcance das mãos. Continuei parado,
encostado na parede e olhando, só olhando, sem coragem de fazer mais nada, ela
com um sorriso maroto iniciou uma conversa sobre desejos, se era novidade, se
estava gostando, e assim ia, as respostas eram dadas com um sinal de positivo,
nenhuma palavra era emitida por mim. Qual seria o próximo passo? O que eu
deveria fazer? Até onde iria tudo aquilo? Quantas vezes eu poderia ficar vendo
ela se banhar depois desse dia? Dúvidas e mais dúvidas.
Um barulho estranho invadiu a casa de banho, um batido de porta fez
sumir o belo sorriso que estampava a sua bela face, logo a voz de mamy, da
frente da porta, anunciava a sua chegada precoce, o silêncio perdurou por
poucos instantes, mamy voltara à porta, agora perguntando onde eu estava. Ela
gaguejou, mas se saiu bem, estava na casa de um amigo.
- E porque o chinelo e as roupas dele estão aqui na lavanderia?
Outro silêncio e a repetição
da pergunta, ela abriu a porta e denunciou nossa cumplicidade, mamy perplexa a
tocou de casa na mesma hora e veio em minha direção, perguntava há quanto tempo
isso vinha acontecendo, respondi e tive que jurar que era a primeira vez. Ela
fez uma cara de alívio. Eu chorei por noites e noites. Além de perder a minha
deusa, fiquei sem a sequência das aulas e o pior, voltei à carne enlatada.
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