quarta-feira, 29 de abril de 2020

Carne Enlatada x Carne Fresca


Jandira foi embora. Fora nossa secretária do lar durante os últimos quatro ou cinco anos, moravam em casa, ela e um casal de filhos, o menino uns quatro anos mais velho, a menina de mesma idade. Eram minhas companhias, com eles assistia aos desenhos prediletos e dividíamos horas a frente de tabuleiros de jogos, agora isso se fora, os amigos, a protetora e a cozinheira de mão cheia. Como estava na casa dos nove anos, precisava de alguém para ajudar nas tarefas da cozinha, mamy prontamente fora à caça de uma substituta a altura, mas estava difícil, lembro-me de uns bons meses almoçando na casa de um vizinho de rua, onde acertamos um valor pela refeição diária. O prato predileto da família era uma carne enlatada, lata essa que já vinha com o abridor, esquentava a lata, abriam e jogavam no prato, uma delícia! hoje acho que deveria ter ficado neste “status quo” por algum tempo, teria uns bons quilos a menos.
Certo final de tarde estava em casa, solitário e movendo “carrinhos de ferro” de lá para cá, esperando mamy voltar de sua segunda jornada de trabalho para comermos algo decente, quando, para minha boa surpresa ela entra acompanhada de nossa nova secretária. Loira natural, rodeava os vinte anos, rosto bonito e corpo que acompanhava o conjunto, parecia a “Jennie”, só que o gênio fora a mamy, que achou aquela deusa perdida a procura de um emprego e de um lar. Meus olhos brilharam de forma perceptiva, claro que minha desculpa utilizada era a de um almoço caseiro novamente, colou. A primeira noite foi difícil, apesar da tenra idade, já estava descobrindo os desejos e aquele monumento agiu como um catalisador da libido. Demorei, mas peguei no sono.
Acordei e quase enfartei, primeiro porque o costume de ficar sozinho me fez esquecer, por instantes, de que agora alguém morava em casa, depois pelo traje que vestia a moçoila, um short de jeans com pontas desfiadas cobria somente metade das fartas nádegas, uma regata de cor rosa clara, apertada, deixava a mostra os ombros e o contorno do busto, interessante relembrar dessa visão depois de tantos anos. Tomei café com ela me rodeando e perguntando do que e como gostava, fui descrevendo a lista de guloseimas, omitindo a principal. Arrumei-me e fui ao colégio, aquele dia foi especial, corri as dez quadras como nunca antes, precisava dividir esta experiência com os amigos mais chegados, no caminho inflava o peito, sabia que seria o mais invejado da turma.
Alguns dias haviam se passado, não conseguia deixar de fixar os olhos nela, porém sempre que ela me fitava, virava a cabeça e rubrava a face. As nossas conversas se resumiam ao básico diário, comida, roupa, arrumação. Extravasava a ansiedade em longas conversas com o zelador do prédio, um verdadeiro amigo e conselheiro, tanto que me explicou o porquê estava me sentindo daquele jeito, também revelou que ficava com torcicolo a cada vez que ela passava pelo longo corredor da portaria, sua principal dica foi sobre os assuntos que deveria puxar com ela, ouvia atentamente e voltava para casa para treinar mentalmente. Por várias vezes a boca se trancou quando achava que seria o momento certo, de qualquer forma fomos ficando mais amigos, agora já assistíamos televisão juntos, ouvíamos música numa pequena vitrola que ganhara no natal (assunto esse que merece um espaço especial) e conversávamos sobre assuntos diferentes das rotinas do lar. Mamy estava feliz com nossa amizade, acredito que era isso que ela esperava, uma moça para me fazer companhia, além das tarefas rotineiras. Conseguiu.
Era final de tarde, estava na cozinha beliscando algum quitute quando entra a moça, me viu, olhou no relógio e soltou – estou indo tomar banho, quer me acompanhar?
Um calafrio imediatamente tomou conta de meu corpo, com as mãos trêmulas e suando frio balancei levemente a cabeça em sentido de positivo, ela veio ao meu encontro, me pegou pelas mãos e fomos em direção ao seu minúsculo banheiro, que se localizava no final da área de serviço. Entramos, ela tirou sua roupa e perguntou se não queria imitá-la, obedeci. Ligou o chuveiro e começou a se ensaboar, a visão era extraordinária, nunca havia visto uma mulher nua ao vivo e a cores, e principalmente, ao alcance das mãos. Continuei parado, encostado na parede e olhando, só olhando, sem coragem de fazer mais nada, ela com um sorriso maroto iniciou uma conversa sobre desejos, se era novidade, se estava gostando, e assim ia, as respostas eram dadas com um sinal de positivo, nenhuma palavra era emitida por mim. Qual seria o próximo passo? O que eu deveria fazer? Até onde iria tudo aquilo? Quantas vezes eu poderia ficar vendo ela se banhar depois desse dia? Dúvidas e mais dúvidas.
Um barulho estranho invadiu a casa de banho, um batido de porta fez sumir o belo sorriso que estampava a sua bela face, logo a voz de mamy, da frente da porta, anunciava a sua chegada precoce, o silêncio perdurou por poucos instantes, mamy voltara à porta, agora perguntando onde eu estava. Ela gaguejou, mas se saiu bem, estava na casa de um amigo.
- E porque o chinelo e as roupas dele estão aqui na lavanderia?
Outro silêncio e a repetição da pergunta, ela abriu a porta e denunciou nossa cumplicidade, mamy perplexa a tocou de casa na mesma hora e veio em minha direção, perguntava há quanto tempo isso vinha acontecendo, respondi e tive que jurar que era a primeira vez. Ela fez uma cara de alívio. Eu chorei por noites e noites. Além de perder a minha deusa, fiquei sem a sequência das aulas e o pior, voltei à carne enlatada.

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