O relato, pelo ponto de
vista da City Azulona Pfizer:
As 4:45 hs de quinta já estava abastecida e aguardando meu dono e seus
amigos tomarem café da manhã no posto Graal da Castelo Branco, acabaram se
atrasando um pouco e fui ligada às 6:20, destino, a terra do nunca.....
Ainda escuro e com uma chova moderada entramos na estrada reta, larga e
bem sinalizada, formação feita e seguimos. Apesar da pouca visibilidade, afinal
não tenho as bolhas que as minhas colegas de viagem possuem, íamos bem.
Primeira parada no Rodoserv, um "stop and go" para abastecimento. O
dia já se fazia claro neste momento.
A tocada foi essa até chegarmos em Maringá, onde a estrada se mostra
mais desconfortável, pois vira mão dupla e com excesso de caminhões, neste
momento sabia que estava deixando meu dono chateado por não poder acompanhar as
motos preparadas para grandes viagens, a cada passagem de um caminhão ou ônibus
vindo em sentido contrário eu tentava me manter estável, mas era como se
permitisse que o piloto tomasse um tapa no peito, devido ao deslocamento de ar
e água, neste momento a chuva de moderada passou a intensa. A roupa
"impermeável" se mostrou frágil diante da fúria da natureza e
permitiu a entrada da água por todos os pontos - ressalva à luva, comprada na
General Osório por 140 pratas, que aguentou firme, sem deixar a água entrar,
contudo a sensação de congelamento dos dedos era real.
Minha baixa autonomia fazia com que todos tivessem que parar a cada 170
kms, isso atrasou a viagem mais um pouco. A medida que o tempo passava o frio
aumentava demasiadamente, fazendo que a cada parada a preocupação em se aquecer
aumentasse, paramos para almoçar perto dos 600 kms percorridos. Alí percebi que
meu dono estava cansando, preocupada com isso fiz o meu melhor, tentei me
superar, em nenhum momento podia falhar, nenhuma engasgada, nenhuma dificuldade
em ligar, nenhuma marcha sem entrar, tinha que ajudar a quem me trata bem e me
ama.
Já era perto das 17 horas quando paramos numa cidadezinha e o grupo se
separou, o Magoo e o Vicente seguiram para Toledo e o resto seguiu - mais
devagar por minha causa - em direção ao destino final. Ouvia os pensamentos do
meu dono, sempre dizendo que precisaria continuar, que estava com seus amigos e
não poderia atrapalhá-los ainda mais, seguimos.
Com o cair do dia o frio se mostrou um inimigo cruel, daqueles que não
querem matar, apenas torturar. Paramos no posto e meu dono disse que precisaria
de um tempo para descansar um pouco e se enxugar/aquecer, depois de 3 copos de
café com leite e uns 20 minutos parados, seguimos, estávamos a 300 kms de Foz,
vamos ver no que vai dar.
O combustível já estava no final, a próxima parada estava próxima, mas
meu piloto e amigo não aguentou mais, ele abriu o bico, na parada ele informou
que não conseguiria continuar, neste ponto já era noite e o frio estava
castigando muito, aliado a quase nada de visibilidade - no meu caso tanto para
frente quanto para tras, pois meus espelhos estavam encobertos pela massa do
piloto mais a capa de chuva que batia em seu braço, tornando impossível ver o
que se passava atrás - o termômetro marcava 3 graus, contudo a sensação térmica
em cima da moto era de menos 15 graus, e os rapazes do posto informaram que a
500 metros havia um belo hotel, como "companheiro é companheiro" e a
amizade neste grupo é mais importante que qualquer ponto, todos resolveram
ficar e fazer companhia, entramos no estacionamento e me posicionei ao lado das
enormes bravas. dormimos.
Nesta mesma noite houve mais um imprevisto, o Magoo e o Vicente se
perderam na estrada e trouxeram preocupação extra, indo o Magoo parar no hotel
em foz, viajando e dormindo sozinho e o Vicente, que não sabia o endereço, foi
dormir num pulgueiro onde achou vaga.
As 10 da manhã estávamos chegando em Foz, encontramos nossos amigos e
todos foram as compras no Paraguai. Sábado pela manhã foi a vez de irem até a
Argentina e logo foram nos buscar para continuarmos a jornada. As 15 horas estávamos
na estrada novamente, agora com o propósito de uma parada planejada. O início
da viagem mostrou que a tortura seria a mesma, mas as rezas de quem foi e de
quem ficou adiantaram muito, após umas 2 horas o tempo firmou, a chuva parou e
a temperatura aumentou, agora sim podia sentir a feição de felicidade de meu
dono, cortava feliz as curvas da região, sempre colado e no mesmo ritmo dos
amigos, percebi até que sua autoestima havia sido recuperada, pois exigia com
vontade de minha cavalaria. As 22 horas chegamos em Londrina, onde escolheram
pernoitar, na verdade - tirando o excesso de roupa - dava para continuar a motocada
noturna - deliciosa.
Na manhã de domingo pegamos o último trecho, agora faltavam somente
mais 600 kms para chegar em casa, na verdade faltou mais uma coisa, a cia de um
dos amigos que teve que sair mais cedo, o Vicente nos deixou.
A estrada que pegamos era linda, cheia de curvas e com asfalto bom,
pouco transito e paisagem agradável, logo entramos na Castelo Branco, onde
rasgávamos a 160 a grande reta que se perdia de vista, outra vez a motocada foi
deliciosa, nas paradas ficava claro que os donos de minhas colegas estavam felizes.
Cheguei em casa as 18:30, sem uma gota de chuva. Na garagem fiquei um pouco
mais apresentável, pois meu dono tirou aqueles dois enormes sacos de lixo de
minhas costas (maloca, conforme ouvi o Celso me chamar) e fui descansar com a
certeza de mais uma função cumprida. Fazer meu dono feliz.
Pena que iguais a mim não serão mais montadas pela fábrica que fechou,
existirá uma geração de motociclistas que possivelmente nunca saberão de minha
existência, mas só tenho uma coisa a falar. Azar deles.
Os Companheiros
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Magoo - Triumph Tiger 1050 - que não gosta de gasosa ruim
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Celso - BMW GS 1200 - chique no urtimu *IN MEMORIAM
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Adamo - BMW K 1300 - sonho de consumo
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Vicente - BMW GS 1200 - estreiante
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Marcel - Buell Ulysses 1200 - novíssima com kit extra confort *IN MEMORIAM
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Luiz Uri (meu dono) - Buell Citycross 1000 - eu mesma, a azulona pfizer
A kilometragem
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Quinta - 900 kms
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Sexta - 200 Kms
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Sábado - 500 Kms
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Domngo - 600 Kms
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Total - 2.200 kms
Os Números da viagem
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Distância percorrida: 2.178 kms
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Tempo (moto ligada/rodando): 23:50 hs
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Velocidade máxima: 195km/h
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Consumo médio: 12.98 km/L
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Consumo total: 167,80 litros de combustível
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Gasto aproximado de combustível: R$ 436,50
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Hospedagem e alimentação: +- R$ 550,00
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Pedágio: +- R$ 70,00
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Total (sem compras): R$ 1.056,50
Relato do Piloto:
Meu dono agora está gritando comigo dizendo que quer falar também, mas
como o relato é meu, apenas vou repetir o que ele tem a dizer:
"Quero agradecer imensamente aos bravos "Bulleiros" de
coração, essa amizade transcende qualquer entendimento mortal, vocês me
escoltaram com paciência e sabedoria, me levaram e me trouxeram. Devo esta
experiência magnífica a vocês, e quando precisar é só chamar. Ah!!! se tiver
sol pode me chamar que EU VOU......."
Assinado:
City Azulona Pfizer *
* Buell Citycross 1000 cilindradas, ano 2008, azul translúcido,
equipada com Comando eletrônico TFI e com filtro de competição K&N, 105
cavalos não originais, com 22 meses de vida e 22 mil kilometros rodados. SEM
BOLHA e SEM CARENAGEM.
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