quarta-feira, 29 de abril de 2020

Sampa a Foz, de moto


O relato, pelo ponto de vista da City Azulona Pfizer:
As 4:45 hs de quinta já estava abastecida e aguardando meu dono e seus amigos tomarem café da manhã no posto Graal da Castelo Branco, acabaram se atrasando um pouco e fui ligada às 6:20, destino, a terra do nunca.....
Ainda escuro e com uma chova moderada entramos na estrada reta, larga e bem sinalizada, formação feita e seguimos. Apesar da pouca visibilidade, afinal não tenho as bolhas que as minhas colegas de viagem possuem, íamos bem. Primeira parada no Rodoserv, um "stop and go" para abastecimento. O dia já se fazia claro neste momento.
A tocada foi essa até chegarmos em Maringá, onde a estrada se mostra mais desconfortável, pois vira mão dupla e com excesso de caminhões, neste momento sabia que estava deixando meu dono chateado por não poder acompanhar as motos preparadas para grandes viagens, a cada passagem de um caminhão ou ônibus vindo em sentido contrário eu tentava me manter estável, mas era como se permitisse que o piloto tomasse um tapa no peito, devido ao deslocamento de ar e água, neste momento a chuva de moderada passou a intensa. A roupa "impermeável" se mostrou frágil diante da fúria da natureza e permitiu a entrada da água por todos os pontos - ressalva à luva, comprada na General Osório por 140 pratas, que aguentou firme, sem deixar a água entrar, contudo a sensação de congelamento dos dedos era real.
Minha baixa autonomia fazia com que todos tivessem que parar a cada 170 kms, isso atrasou a viagem mais um pouco. A medida que o tempo passava o frio aumentava demasiadamente, fazendo que a cada parada a preocupação em se aquecer aumentasse, paramos para almoçar perto dos 600 kms percorridos. Alí percebi que meu dono estava cansando, preocupada com isso fiz o meu melhor, tentei me superar, em nenhum momento podia falhar, nenhuma engasgada, nenhuma dificuldade em ligar, nenhuma marcha sem entrar, tinha que ajudar a quem me trata bem e me ama.
Já era perto das 17 horas quando paramos numa cidadezinha e o grupo se separou, o Magoo e o Vicente seguiram para Toledo e o resto seguiu - mais devagar por minha causa - em direção ao destino final. Ouvia os pensamentos do meu dono, sempre dizendo que precisaria continuar, que estava com seus amigos e não poderia atrapalhá-los ainda mais, seguimos.
Com o cair do dia o frio se mostrou um inimigo cruel, daqueles que não querem matar, apenas torturar. Paramos no posto e meu dono disse que precisaria de um tempo para descansar um pouco e se enxugar/aquecer, depois de 3 copos de café com leite e uns 20 minutos parados, seguimos, estávamos a 300 kms de Foz, vamos ver no que vai dar.
O combustível já estava no final, a próxima parada estava próxima, mas meu piloto e amigo não aguentou mais, ele abriu o bico, na parada ele informou que não conseguiria continuar, neste ponto já era noite e o frio estava castigando muito, aliado a quase nada de visibilidade - no meu caso tanto para frente quanto para tras, pois meus espelhos estavam encobertos pela massa do piloto mais a capa de chuva que batia em seu braço, tornando impossível ver o que se passava atrás - o termômetro marcava 3 graus, contudo a sensação térmica em cima da moto era de menos 15 graus, e os rapazes do posto informaram que a 500 metros havia um belo hotel, como "companheiro é companheiro" e a amizade neste grupo é mais importante que qualquer ponto, todos resolveram ficar e fazer companhia, entramos no estacionamento e me posicionei ao lado das enormes bravas. dormimos.
Nesta mesma noite houve mais um imprevisto, o Magoo e o Vicente se perderam na estrada e trouxeram preocupação extra, indo o Magoo parar no hotel em foz, viajando e dormindo sozinho e o Vicente, que não sabia o endereço, foi dormir num pulgueiro onde achou vaga.
As 10 da manhã estávamos chegando em Foz, encontramos nossos amigos e todos foram as compras no Paraguai. Sábado pela manhã foi a vez de irem até a Argentina e logo foram nos buscar para continuarmos a jornada. As 15 horas estávamos na estrada novamente, agora com o propósito de uma parada planejada. O início da viagem mostrou que a tortura seria a mesma, mas as rezas de quem foi e de quem ficou adiantaram muito, após umas 2 horas o tempo firmou, a chuva parou e a temperatura aumentou, agora sim podia sentir a feição de felicidade de meu dono, cortava feliz as curvas da região, sempre colado e no mesmo ritmo dos amigos, percebi até que sua autoestima havia sido recuperada, pois exigia com vontade de minha cavalaria. As 22 horas chegamos em Londrina, onde escolheram pernoitar, na verdade - tirando o excesso de roupa - dava para continuar a motocada noturna - deliciosa.
Na manhã de domingo pegamos o último trecho, agora faltavam somente mais 600 kms para chegar em casa, na verdade faltou mais uma coisa, a cia de um dos amigos que teve que sair mais cedo, o Vicente nos deixou.
A estrada que pegamos era linda, cheia de curvas e com asfalto bom, pouco transito e paisagem agradável, logo entramos na Castelo Branco, onde rasgávamos a 160 a grande reta que se perdia de vista, outra vez a motocada foi deliciosa, nas paradas ficava claro que os donos de minhas colegas estavam felizes. Cheguei em casa as 18:30, sem uma gota de chuva. Na garagem fiquei um pouco mais apresentável, pois meu dono tirou aqueles dois enormes sacos de lixo de minhas costas (maloca, conforme ouvi o Celso me chamar) e fui descansar com a certeza de mais uma função cumprida. Fazer meu dono feliz.
Pena que iguais a mim não serão mais montadas pela fábrica que fechou, existirá uma geração de motociclistas que possivelmente nunca saberão de minha existência, mas só tenho uma coisa a falar. Azar deles.
Os Companheiros
ü Magoo - Triumph Tiger 1050 - que não gosta de gasosa ruim
ü Celso - BMW GS 1200 - chique no urtimu *IN MEMORIAM
ü Adamo - BMW K 1300 - sonho de consumo
ü Vicente - BMW GS 1200 - estreiante
ü Marcel - Buell Ulysses 1200 - novíssima com kit extra confort *IN MEMORIAM
ü Luiz Uri (meu dono) - Buell Citycross 1000 - eu mesma, a azulona pfizer

A kilometragem
ü Quinta - 900 kms
ü Sexta - 200 Kms
ü Sábado - 500 Kms
ü Domngo - 600 Kms
ü Total - 2.200 kms
Os Números da viagem
ü Distância percorrida: 2.178 kms
ü Tempo (moto ligada/rodando): 23:50 hs
ü Velocidade máxima: 195km/h
ü Consumo médio: 12.98 km/L
ü Consumo total: 167,80 litros de combustível
ü Gasto aproximado de combustível: R$ 436,50
ü Hospedagem e alimentação: +- R$ 550,00
ü Pedágio: +- R$ 70,00
ü Total (sem compras): R$ 1.056,50
Relato do Piloto:
Meu dono agora está gritando comigo dizendo que quer falar também, mas como o relato é meu, apenas vou repetir o que ele tem a dizer:
"Quero agradecer imensamente aos bravos "Bulleiros" de coração, essa amizade transcende qualquer entendimento mortal, vocês me escoltaram com paciência e sabedoria, me levaram e me trouxeram. Devo esta experiência magnífica a vocês, e quando precisar é só chamar. Ah!!! se tiver sol pode me chamar que EU VOU......."
Assinado:
City Azulona Pfizer *
* Buell Citycross 1000 cilindradas, ano 2008, azul translúcido, equipada com Comando eletrônico TFI e com filtro de competição K&N, 105 cavalos não originais, com 22 meses de vida e 22 mil kilometros rodados. SEM BOLHA e SEM CARENAGEM.

Nenhum comentário:

Postar um comentário