Não vou mentir que sempre
rotulei as pessoas como de sorte ou de azar, até quero acreditar que isso não
exista, que competência é sempre mandatória da sorte, mas que tem gente que a vida
sorri mais que para outras isso é inevitável, seja pelo belo nascimento, seja
pelos ganhos em loterias e jogos, seja até por um casamento promissor... penso
que estou na média, ora a sorte bate na porta, ora parece que meus pés estão
virado pra trás.
Fomos convocados para uma
semana de reuniões no Rio de Janeiro, justo naquela semana que parece que todas
as feiras e eventos tinham escolhido aquela cidade para ser sua sede, então
nada de hotel. Depois do meu cliente fuçar e cavoucar a secretária me liga e
diz que só achou vaga no Copacabana Palace, mas que só encontrou dois quartos
disponíveis, a conta não fechava pois estávamos em três. Nem demorou muito para
ela ouvir minha resposta de positivo, poderíamos dividir um quarto em dois,
algo até normal no nosso trabalho, sempre preocupados com custos. Realizada a
reserva fiquei até que feliz, pois apesar de só ser meio quarto, esse meio
quarto era no "Copa", um ícone da cidade, onde já se hospedaram e até
viveram grandes personagens da história brasileira e internacional, lá vamos
nós.
Por questões de logística
cada integrante da equipe iria chegar em um horário diferente naquela
segunda-feira, eu fui o primeiro a fazer check-in naquele lobby muito bem
decorado e grandioso, obviamente também muito bem atendido por funcionários
treinados e preparados para receber grandes personalidades, nesse dia, era só
eu. Chave na mão vamos conhecer o quarto e lá vem a primeira confusão, eles
acharam que o meu quarto duplo, com outro nome de homem na reserva, era para um
encontro amoroso e me deram um quarto com uma enorme cama de casal, toca pegar
o elevador e descer novamente à recepção. Explicações dadas, um certo ar de
constrangimento entre os atendentes e problema resolvido, pelo menos não posso
queixar do tempo, foram muito ágeis na solução desse equívoco. Agora em quarto
certo, devidamente decorado com duas camas de solteiro, era esperar o resto da
tropa.
Terça foi um dia daqueles,
saímos bem cedo do hotel - não antes de tomar um café da manhã em frente à
piscina - e ficamos no trabalho até tarde, tanto que decidimos ir direto
jantar, antes mesmo de voltar ao hotel, assim fizemos. Já era perto das dez e
meia quando voltamos, cansados e sonhando com aquela cama de colchão
convidativo, mas para nossa surpresa - a segunda da semana - ao entrarmos no
quarto vimos nossas camas desarrumadas, toalhas sobre elas, da mesma forma que
as deixamos pela manhã. Pensamos no que fazer, se deixaríamos isso de lado e
deitaríamos, mas resolvemos descer, pelo menos para avisar e solicitar toalhas
secas e limpas.
A cara do Gerente da
Concierge foi de total espanto, não sabia para que lado corria e não parava de
pedir desculpas, disse que nunca que nos deixaria dormir em um quarto sujo e
desarrumado e se podíamos aguardar alguns minutos, inclusive no restaurante ou
no bar com tudo pago pelo hotel, obviamente. Aceitamos. Sentamos numa mesa ao
redor da piscina e, mesmo farto do jantar recém realizado, trouxeram alguns
petiscos e drinks sugeridos pelo maître. Poucos minutos depois veio o tal
Gerente dizendo que já poderíamos subir, que o quarto estava devidamente
arrumado, mais algumas desculpas e se foi. Ficamos mais um pouco no bar, afinal
estava de bom tamanho né, ao subir ainda encontramos amenidades em nossas
camas, chocolates e souvenires da Natura. Valeu reclamar.
Quarta-feira não foi
diferente a rotina, acordar cedo, tomar café de rei e ir trabalhar como
escravo, a diferença é que havia marcado um happy-hour com amigos cariocas,
então a rotina se repetiu, do trabalho direto para o bar. Alguns tragos,
risadas e mentiras depois voltamos ao hotel, a essa altura bem cansados, do
acumular da semana. Boa noite na recepção, elevador, porta do quarto e.... tudo
desarrumado novamente. Até parecia mentira que naquele hotel estavam sendo tão
relapsos, mas não poderíamos deixar de lado, claro que o pensamento das
amenidades e regalias ganhas passou pela cabeça, descemos.
Quando o mesmo Gerente da
Concierge nos viu de novo ele até brincou - Tudo em ordem hoje ou está
bagunçado de novo! só que quase caiu de costas quando respondemos que não
haviam arrumado por dois dias seguidos, coitado do homem entrou em parafuso,
ligou na governança, entrava e saia do seu balcão com jeito de que queria comer
alguém - e sem prazer. Novamente uma enxurrada de desculpas, ofereceu novamente
o bar até que resolvessem, mas estávamos cansados mesmo então recusamos,
dissemos que esperaríamos a arrumação na porta do quarto, subimos com ele a
tira colo, já no corredor dava para avistar uns cinco carrinhos das
arrumadeiras em frente ao nosso quarto, coisa de recorde mundial, não esperamos
dez minutos e o quarto brilhava. Mais desculpas e fechamos a porta.
Já no meio da tarde de
quinta-feira toca meu celular, o Gerente do hotel me ligando e dizendo que
haviam feito várias reuniões para identificar o motivo do ocorrido e
agradecendo pela nossa gentileza e educação, e que, para tentar minimizar o
efeito do transtorno estava nos convidando para uma noite na boate do hotel, o
recém reinaugurado "Bar do Copa", obviamente all inclusive. Marcamos
de nos encontrar no lobby do hotel as dez e meia. Após banho e colocar o terno
novamente, descemos. Lá estava ele já à nossa espera, nos levou até dentro do
Bar, apresentando-nos à Hostess do local, que logo nos levou a uma mesa
escolhida a dedo e nos deu duas notícias bem desagradáveis.
- Quero informar que vocês
são convidados VIP´s do hotel e que absolutamente tudo é por nossa conta (e
quando ela disse absolutamente tudo ela não estava brincando) e também que hoje
é aniversário de um dos donos de uma famosa agência de modelos carioca, e que
sua comemoração seria ali mesmo, inclusive com sua mesa bem ao nosso lado,
então muitas modelos estariam no ambiente para lhe dar os parabéns. Ficamos até
amanhecer.
Ainda estou pensando se foi
uma semana de sorte ou de azar...
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