Como chegamos até esse
estágio, nada mais certo a fazer do que procurar algum lugar agradável para
passarmos nossa lua de mel, até porque - e como primeiro aparte - o pai dela já
havia preenchido uma parede com caixas de bebidas para nossa cerimônia,
realmente eles estavam dando toda importância e pompa que a data merecia. Fui
eu atrás de um hotel legal, o local já estava escolhido, Bahia.
Era um tempo difícil, todas
as comodidades da internet ainda estavam engatinhando - estamos em 1993 - então
as buscas eram feitas nos classificados dos jornais mesmo, toca passar na
banca, comprar o estadão, e procurar uma agência de turismo. Podia ter
inventado o Google né.
Após passar pela atendente,
surge uma voz com sotaque cantado e meloso pronta a atender meus desejos, logo
disse como queria o pacote, que seria minha lua de mel portanto o hotel deveria
ser à altura, se possível já incluir algum passeio ou comodidades do local e
assim vai. Como o tempo passava diferente àquela época, algumas horas depois a
jovem vendedora me retornou com o pacote pronto, fechei na hora, mas não antes
sem perguntar o que me assolava:
- De onde você é? esse seu
sotaque não é daqui né, você é do Sul?
- Isso mesmo, sou do
interior de Santa Catarina e cheguei a pouco aqui em SP.
- Blá
- Blá
- Mais um pouco de Blá, e,
- Vamos sair?
- Sim, vamos.
Comecei a pensar que algo
estava bem errado mesmo, acho que meu anjo da guarda estava querendo me dizer
algo (excelente saída essa né hehehehe), como que eu estava flertando com a
moça que acabou de vender minha lua de mel! Saímos.
Alguns dias passados
estávamos, minha noiva e eu, num belo jantar romântico em um pequeno e charmoso
francês, quando lá pelo final da janta e após alguns bons goles de vinho,
perguntei se era isso mesmo que ela queria, se não havia dúvida alguma... ela
imediatamente retrucou dizendo que se eu estava perguntando isso era porque EU
estava com a dúvida... Bidú. Mais algumas palavras e ela sacou a aliança do
dedo e me devolveu, num ato e gesto simbólico de encerramento do nosso
relacionamento, sim, fácil assim, olha os anjos como estavam certos...
Terminamos.
Passados uns dois meses
desse turbilhão de coisas, chegou o dia da viagem, não vamos esquecer dela né,
afinal já estava totalmente paga e as férias na empresa planejada, então eu não
desperdiçaria essa chance, mas como fazer para ela endossar a passagem, tive
que ligar. Refeita do susto inicial expliquei sobre a viagem, que eu já havia
me planejado todo e que gostaria de ir - lembra do blá, põe mais um monte aqui.
Mais uma vez percebi o quanto as pessoas podem ser surpreendentes e o quanto
podemos errar nas avaliações e pré-julgamentos. Ouvi dela um enorme, rápido e
sonoro...
- Eu vou viajar também, essa
viagem era para mim então eu vou, pronto, simples assim.
Nos encontramos no saguão do
aeroporto, assim que sentamos em nossos assentos perguntei como faríamos,
afinal estariam esperando um casal recém-casados, com festas e mimos, além das
pessoas que fatalmente conheceríamos no hotel e que nos dariam os parabéns.
Mais uma surpresa, sem pestanejar ela disse que casados estaríamos, nem que
somente por esses quinze dias, e dessa forma deveríamos nos portar. Assim feito,
um casal feliz nas praias do sul da Bahia, festejando o que seria o começo de
uma vida juntos, vida essa que durou até a porta do avião se abrir já na
chuvosa e friorenta capital paulista, e dali darmos nosso último e definitivo
adeus. nunca mais nos falamos.
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