quarta-feira, 29 de abril de 2020

Não foi; ia; era para ser; acabou não “fondo”

Tem coisas que não tem jeito mesmo, não sai nem que a vaca voe e tussa, já outras acontecem com tanta naturalidade que nem percebemos. Certa vez conheci uma garota estranha numa festa esquisita, mas quando percebi já estávamos juntos, quando percebi de novo estávamos namorando, sem que desse tempo de uma piscadela estávamos de aliança de noivado, e claro, quando me dei por mim a data do casamento estava marcada. 

Como chegamos até esse estágio, nada mais certo a fazer do que procurar algum lugar agradável para passarmos nossa lua de mel, até porque - e como primeiro aparte - o pai dela já havia preenchido uma parede com caixas de bebidas para nossa cerimônia, realmente eles estavam dando toda importância e pompa que a data merecia. Fui eu atrás de um hotel legal, o local já estava escolhido, Bahia.

Era um tempo difícil, todas as comodidades da internet ainda estavam engatinhando - estamos em 1993 - então as buscas eram feitas nos classificados dos jornais mesmo, toca passar na banca, comprar o estadão, e procurar uma agência de turismo. Podia ter inventado o Google né.

Após passar pela atendente, surge uma voz com sotaque cantado e meloso pronta a atender meus desejos, logo disse como queria o pacote, que seria minha lua de mel portanto o hotel deveria ser à altura, se possível já incluir algum passeio ou comodidades do local e assim vai. Como o tempo passava diferente àquela época, algumas horas depois a jovem vendedora me retornou com o pacote pronto, fechei na hora, mas não antes sem perguntar o que me assolava: 

- De onde você é? esse seu sotaque não é daqui né, você é do Sul?
- Isso mesmo, sou do interior de Santa Catarina e cheguei a pouco aqui em SP.
- Blá
- Blá
- Mais um pouco de Blá, e,
- Vamos sair?
- Sim, vamos.

Comecei a pensar que algo estava bem errado mesmo, acho que meu anjo da guarda estava querendo me dizer algo (excelente saída essa né hehehehe), como que eu estava flertando com a moça que acabou de vender minha lua de mel! Saímos.

Alguns dias passados estávamos, minha noiva e eu, num belo jantar romântico em um pequeno e charmoso francês, quando lá pelo final da janta e após alguns bons goles de vinho, perguntei se era isso mesmo que ela queria, se não havia dúvida alguma... ela imediatamente retrucou dizendo que se eu estava perguntando isso era porque EU estava com a dúvida... Bidú. Mais algumas palavras e ela sacou a aliança do dedo e me devolveu, num ato e gesto simbólico de encerramento do nosso relacionamento, sim, fácil assim, olha os anjos como estavam certos... Terminamos.

Passados uns dois meses desse turbilhão de coisas, chegou o dia da viagem, não vamos esquecer dela né, afinal já estava totalmente paga e as férias na empresa planejada, então eu não desperdiçaria essa chance, mas como fazer para ela endossar a passagem, tive que ligar. Refeita do susto inicial expliquei sobre a viagem, que eu já havia me planejado todo e que gostaria de ir - lembra do blá, põe mais um monte aqui. Mais uma vez percebi o quanto as pessoas podem ser surpreendentes e o quanto podemos errar nas avaliações e pré-julgamentos. Ouvi dela um enorme, rápido e sonoro...

- Eu vou viajar também, essa viagem era para mim então eu vou, pronto, simples assim.

Nos encontramos no saguão do aeroporto, assim que sentamos em nossos assentos perguntei como faríamos, afinal estariam esperando um casal recém-casados, com festas e mimos, além das pessoas que fatalmente conheceríamos no hotel e que nos dariam os parabéns. Mais uma surpresa, sem pestanejar ela disse que casados estaríamos, nem que somente por esses quinze dias, e dessa forma deveríamos nos portar. Assim feito, um casal feliz nas praias do sul da Bahia, festejando o que seria o começo de uma vida juntos, vida essa que durou até a porta do avião se abrir já na chuvosa e friorenta capital paulista, e dali darmos nosso último e definitivo adeus. nunca mais nos falamos.

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